27 setembro 2008

Aparição

Consuelo foi avistada em forma de vulto. Um fotógrafo amador (Floritcha, thank you) conseguiu capturar esta imagem.

Ela não é a coisinha mais mimimi deste mundo??

Consuelo, vem pra mamãe!!!!

26 setembro 2008

¡¡¡Consuelo!!!

MiiinhAAAAAAAAAAAAAAAAAAAÁUU!



Consuelo está chegando!!!! Eu sinto. Encostei o ouvido no chão e senti as vibrações.

Consuelo vem consolar a dor da solidão sofrida por Dexter, o primogênito, cuja irmã resolveu viver vida de madame em Nova Iorque e nunca mais voltar à terrinha. Dexter perdeu a cabeça desde que chegou aos trópicos. Sentindo-se solitário, tornou-se sociopata. O calor amoleceu os miolos. Após traumática experiência de ver seus pais se divorciarem, mudar de país 2 vezes em 2 meses, pegando carona, enquanto drogado, em 4 aviões, diversos táxis, uma kombi e uma moto de pet shop (isso deveria ser proibido), e de aventurar-se no submundo mais sujo da cidade de São Paulo respirando a mesma marola de crack de travecos e mendigos, o bichinho não agüentou. Pirou de vez. Agora, dois milênios depois, tem vida de dândi e age como tal; excêntrico. Politizou-se: faz questão de ser ouvido. Não só pelos tiranos ditadores da casa - no caso, meu namorado e eu - mas também pelos feudos vizinhos, cujos reis devem tê-lo como pária.

O Dexter realmente adora falar. MUITO ALTO. É um cara super vocal.

Pois Consuelo vem acalmar seus nervos. Eles falam a mesma língua. Por enquanto, Dexter é o único habitante neste reino que fala gatês, e imagino que isso deva trazer uma angústia muito grande, afinal de contas, comunicação é tudo em nosso mundo contemporâneo. Consuelo será intérprete providencial. Ela fala gatês, inglês, alemão e, claro, espanhol. E goianês, por suas raízes. Cá entre nós, ela vem de Anápolis, mas não espalhem. Ela prefere que digam que vem de Andaluzia. Une Chat Andalou.

07 setembro 2008

I Am Mine

Ah, tô revoltada. Tem uns cartazes pela cidade divulgando uma passeata pró-vida que vai rolar aqui em Brasília. A frase de efeito deles é "Se queremos a vida, porque legalizar a morte", ou algo do tipo. Aquela coisa bem apelativa pra atingir a sementinha plantada no subconsciente de todos pela doutrinação e superstição subliminares cristãs existentes nesta metade aqui do planeta. Aquela sementinha bem difícil de remover, não importando o quanto se tente.

Toda vez que eu vejo o diabo do cartaz eu me arrependo de ter esquecido o canetão em casa.

Me revolta o fato da sociedade apoiar que o estado deve ter controle sobre o que as mulheres fazem com o próprio corpo. O MEU corpo. EU mando, não aquela corja engravatada que nem sabe quem eu sou.

A maioria das pessoas no Brasil é contra o aborto. Será que elas se questionam sobre o por quê? Será que essa opinião foi concebida de forma autônoma, ou será que é tida como dogma? Ou será que o assunto tá tão longe da realidade da maioria das pessoas que elas nunca param pra pensar sobre as questões envolvidas? Dizem que o que os olhos não vêem o coração não sente. Pois no Brasil as mulheres nunca tiveram acesso à liberdade que é poder escolher continuar ou interromper uma gravidez indesejada. Então elas não sabem como seria ter tal acesso, e conformam-se com a presente situação. Isso é tão típico do universo humano. Conformismo. Aquela coisa não-tá-perfeito-assim-mas-tá-bom-então-deixa.

Existe um estigma da mulher que emprenha sem querer. Ela dá horrores, bêbada, sem camisinha e puft, se fodeu. Bem feito, quem mandou?

Quem mandou nascer com útero numa sociedade que julga usando como base moldes injustos e machistas? Uma sociedade onde se você for homem e virar as costas para uma gravidez de sua responsabilidade, você pode simplesmente continuar sua vida como se nada tivesse acontecido; se você for mulher e quiser fazer a mesma coisa você é julgada, estigmatizada, corre risco de vida e ainda pode ser presa.

O estado por acaso dá às mulheres condições de criar filho aqui neste país? Mesmo dentro da classe média é difícil. Finalmente, depois de muito bafafá desnecessário, passaram a lei da extensão da licença maternidade. Mas como nada é simples por aqui, peraí, não é bem assim. Tenho uma amiga amada cujo novo bichinho faz 1 mês nesta semana. Ela terá apenas 4 meses de licença porque é uma burocracia dos infernos conseguir o diabo da extensão. A cidade tem que implementar a lei primeiro, e pasmem, Brasília ainda não o fez. Se uma empresa muito legal estiver a fim de contemplar suas funcionárias com os dois meses a mais antes da implementação, terá que tirar do próprio bolso e aguardar futuro reembolso do governo. Depois de trezentos quilos de papelada e mais uns 300 anos, imagino.

Fora isso ainda trabalhamos demais por dinheiro de menos - especialmente por sermos mulheres. Ainda ganhamos menos, e muitas vezes somos as únicas provedoras. Tanto pai picareta que cai fora por aí. Aí somos obrigadas a matricular nossos filhos em sofríveis escolas públicas porque o mesmo governo que não nos dá o direito de viver dignamente e nem de escolher se queremos mesmo criar filho igualmente indignamente não supre a população com a coisa mais básica do universo, que é educação. E o bichinho ainda vai crescer (cheio de traumas gerados por criação vinda de mãe despreparada) e vai ser obrigado a se matar pra competir com mais um zilhão de candidatos pra entrar naquela bosta que é a UnB ou qualquer outra ainda pior. Isso falando da classe média. Não tenho cacife pra falar sobre a infelicidade que deve ser criar um filho em situação de pobreza. Não ouso nem tentar imaginar.

Aqui um mapa das legislações de aborto no mundo. Engraçado como em países desenvolvidos o aborto é legalizado sem restrições, e as legislações vão apertando até sumir à medida em que entramos nos países mais pobres. Será que existe alguma relação entre o bem-estar socioeconômico de uma população e controle de natalidade do mesmo?

Eu penso que no nosso país o problema é de ordem religiosa. O povo é contra porque teme a deus. Aborto é assassinato no imaginário popular; existe um conceito místico que defende que zigoto é gente.

Não ter direito a acesso a aborto seguro fode com a vida de milhares de mulheres. Os números são horripilantes: dêem uma olhada. É hipocrisia manter o aborto ilegal. As mulheres o fazem de qualquer jeito, estando dentro da lei ou não. O problema é que fazê-lo fora de lei implica risco de saúde e de vida à mulher. Contradição no sloganzinho "Se queremos a vida porque legalizar a morte". A morte e a dor já estão legalizadas, com apoio da comunidade e tudo mais.

Tá tendo agora em nosso país debate - e tomadas de decisão favoráveis, espero - sobre se mulher gestando bebê anencéfalo tem o direito de abortar. Ora, o bebê anencéfalo morre. Pode até viver poucos dias, se é que se pode chamar aquilo de viver, e logo morre. Não tem jeito. E a mulher que carrega um bichinho infeliz desses, hoje em nosso país, é obrigada a levar a gravidez até o fim, parir, e assistir o bichinho sofrer uns dias e morrer. Super humano.

Eu acabei de ver este trailer, do filme "O Aborto dos Outros", recém parido por uma tal de Carla Gallo:

Agradeço à Sra. Gallo pela coragem e iniciativa. Mal posso esperar pra ver o filme e o impacto do mesmo em nossa comunidade. Tomara que gere muito debate.

É ótimo que o assunto, há tempos dormente, esteja em pauta neste momento em nosso país. Mas vou ser bem sincera com vocês: duvido que desta vez o negócio mude. As pessoas ainda não digerem a questão de forma aberta, sem intervenções dos antigos tabus enraizados na nossa cultura. Se houvesse referendo hoje, não passa. Mas o assunto estar presente já é um começo. Quem sabe isso faça com que as pessoas pensem por si.

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Se um dia você precisar de ajuda, acesse:
http://www.womenonwaves.org/
http://www.womenonweb.org/

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