10 outubro 2009

Distorção

Hoje vi as unhas lindas da minha colega, "Bicha, que esmalte é esse?!"

O nome do esmalte é Inveja Boa.

Já é velho o assunto da cafonice de nome de esmalte: Obsessão, Sedução, Show. Mas Inveja Boa é de matar. Desde quando isso existe? Inveja boa é tão coerente quanto psicopatia positiva. Ou desonestidade bacana. Por aí.

Allie's new roommate is about to borrow a few things. Her clothes. Her boyfriend. Her life.


A primeira vez que vi essa onda de "inveja boa" foi lá no comecinho dos anos 2000. Um pagespread da academia Reebok numa revista Trip ou TPM com a Daniela Ciccareli (?) dizendo, "Sabe aquela invejinha boa? Então. Venha para a academia Reebok", ou qualquer asneira do tipo. Aquilo meio que ficou na minha cabeça. A distorção de valores. Uma publicidade apelativa aos sentimentos mais primitivos e indignos. Algo que explora de forma cruel não só o universal desejo de aceitação, mas também a vontade de um extremo disso: provocar inveja. Pusta pequenez de espírito, e pusta mau gosto. Poxa, a Reebok com certeza tem cacife pra contratar uma agência que oferecesse algo mais inteligente, non?

Vai que o público-alvo é piriguete daquelas que põe no orkut meu suçeçu te encomoda.

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A cor do esmalte é realmente lindona, e parece um pouco com o Glamour Pink da Colorama.

Rock on

Aqui algumas fotos do segundo dia do Porão, com 87 anos de atraso. Nem sei mais o que escrever.

Tem só uma de cada porque eu sou contra tietagem. Acho brega. Rápido, esconde aquela foto do Courtney Taylor-Taylor e eu.

A segunda noite foi uma grande homenagem ao Rock brasiliense, com uma bela surpresa sobre a qual escreverei daqui a pouco.

O Paralamas fez um show lindíssimo com todas as boas e velhas e, como esperado, uma farofinha ou outra. No entanto, no geral, agitou bastante a galera. Eu, inclusive, balancei meu traseiro amarradona em Alagados, Óculos, e outros clássicos belamente executados pelos moços sérios. Sim, eles são muito sérios. Não vi um sorrisinho sequer durante todo o show.


A surpresa: Legião Urbana. Tipo the real thing. Tipo show histórico em plena Esplanada dos Ministérios, com Que País é Esse? e tudo mais. Muito bunirtim. Eu acho Legião uma banda ok. Não sou e nunca fui mega fã, mas tem umas musiquinhas bacaninhas de ouvir. Na rádio. Involuntariamente. Anyway, eu achei histórico. Eles têm seu valor na história do Rock. Achei legal e nobre colocarem vocalistas diferentes pra cantar cada música. O querido Gonza do Móveis tava mesmo um chuchu dando seus clássicos pulinhos empolgantes. Adoro. Porém, mais uma vez, músicos sérios. Dado Villa-Lobos, namely. O que há com esses músicos daquela geração? Será que é pra dar uma de cool (cara de cu é cool?) ou será que a vida não tem os tratado muito bem? Poxa, earning a living from making music is supposed to be awesome. Conheci vários faxineiros mais sorridentes que esses moços.

Momento vergonhinha alheia: durante o show, o cameraperson - desculpa, cara, você não mandou bem, e não foi só por isto - cismou em achar rostos de adolescentes espinhentos em prantos na multidão e filmá-los por vários minutos seguidos enquanto a imagem embaraçosa aparecia no telão pra 30 mil pessoas verem. Vários minutos torturantes. A banda tocando Pais e Filhos e o rosto da  pessoa abrindo a boca (é preciso ama-aar...) em lágrimas gigante na minha cara. Foi meio foda. Meio Faustão.

Nem me lembro mais quem mais tocou naquela noite, e também nem dei as caras no Pílulas por conta de uma preguiça de thrash metal combinada com uma ressaca monstruosa da noite anterior.

O Little Quail fez um show excelente e muitíssimo divertido. They still got Mojo. Eles brincaram bastante com a platéia, formada em grande parte por velhos de guerra da época do Garagem. Uma coisa bem família; aqueles rostos clássicos da noite de Brasília, aquelas pessoas pra quem você nunca liga mas conhece desde 1994. Cheirinho de nostalgia Estação 109. Pra quem entende.

 

 Esse baterista acima, o tal do Bacalhau, é frenético. Não deu nem pra tirar uma foto decente. E, sim, são cuecas mesmo que o Zé Ovo tá usando. Puro charme e çençualidade.

Fomos embora depois do Little Quail, mas depois li no Blog do Porão que o show do Móveis foi uma coisa "Heróis da Resistência", com chuva, horas de atraso, falta de luz e show acústico e, por fim, o derrubamento da cerca que separava VIPs e plebe. Demais. Down with the wall!!

20 setembro 2009

Paralax

Desde que derrubei minha câmera, a bichinha nunca mais foi a mesma. Tá rolando um erro de paralax sinistro.

Me fodi.

Keep on rockin' in the free world

ch-ch-cherry cola


Isso é que é democracia! Porão livre para todos, no meio da Esplanada. E nóish na área VIP, tá, meu bein, porque todo mundo tem direitos iguais mas alguns tem direitos mais iguais que outros.

Porão ontem foi coisa linda. A programação deste ano tá ótima. Chegamos meio tarde mas a tempo de ver o show da Black Drawing Chalks - excelente banda de Goiânia. Que bom ser apresentada a uma banda tão boa em tal situação - palco principal do Porão, muito bem merecido, com seus power riffs, pegada hard rock e atitude rock n' roll. O baixista fez bonito, puta presença de palco. Adoro.

bate cabelo! 

 
Logo depois começou o Eagles of Death Metal, banda originalmente composta pelo Josh Homme (do Queens of the Stone Age, A-D-O-R-O) e um figura chamado Jesse Hughes (o cara do bigode). Hoje o Josh não veio, e quem acompanhou o Jesse foi o Dave Catching, que também já tocou no QOTSA, além de na Mark Lanegan Band. Adorei o visual vovô-moicano, de camisa de caubói e Flying V em punho (não presente na foto abaixo, obviamente).


Nem preciso dizer que o show foi excelente, altamente dançante e divertidíssimo, com direito a declaração de amor e tudo. O Jesse aprendeu a falar "te amo" bonitinho.

Enquanto isso, Watson e The Pro mandavam ver no Palco Pílulas. Não vi o show inteiro, mas posso dizer que The Pro bombou. Também, pudera, os caras são muito bons e carismáticos. E o som deles é ótemo pra dançar. Infelizmente a iluminação do Pílulas não favorece fotos muito boas - ofuscou várias.

Zé do The Pro

Tudo lindo e ok, mas tive a impressão de que o que o povo queria mesmo era o Sepultura. Foi no show deles que rolou muvuca e pulinhos coletivos e urros rudimentares. Ficou cheio demais e não deu pra tirar boas fotos, mas salvei esta abaixo pra dizer parabéns ao Andreas. Você está magro e seus cabelos estão lindíssimos! Arrasou, queridão.

Andreas, qual shampoo você tá usando?

O show do Sepultura foi excelente, como sempre. Eles tocaram clássicos da época dos irmãos Cavalera, e esse vocalista atual faz bonito. O Sepultura é foda e ouso dizer que eles são provavelmente a banda mais profissional do Brasil.

Daqui à pouco tem mais. Super quero ver o show do Paralamas, tô sentindo que eles vão tocar as boas e velhas. Vou torcer para que mantenham assim e que não me venham com farofa. Mas o que quero mesmo é o Little Quail (clique para ver um achado dos bons tempos do Garagem).

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Todas as fotas aqui usadas são de minha autoria. Se quiser usar, fique à vontade, mas não se esqueça dos créditos, tá, chuchu?

18 setembro 2009

Mo-shit-o

Serviço de utilidade pública: o Spicy serve o pior Mojito da cidade. Mesmo.

Aqui a receita para um Mojito mais TRÜ. O que o Hemingway curtia em Cuba. Dizem.

08 setembro 2009

It's a kind of magic

Foto: Eduardo Coelho

Acabei de voltar de 3 dias no meio do mato. Lá dos cafundós do Goiás. Pra chegar, primeiro você põe um Allman Brothers pra tocar. Aí você pega a estrada até Niquelândia - cuidado que a estrada perto de Padre Bernardo tá uma merda -, desce a rua principal, e pega a BR rumo à Colinas do Sul. Depois de 30 km, a BR vira estrada de chão. Das ruim. Se embrenha lá nos meio dos mato. Come poeira. Aí você chega na fazenda do meu amigo.

O lugar é um privilégio. Fica na Serra da Mesa. Um dia aquilo lá foi um grande vale. Aí resolveram inundar tudo e transformar a região em um puta lago gigante. Não sei o quão ecologicamente (in)correto foi esse processo, mas pelo menos sei que fizeram um levantamento botânico antes de afogar os macaquinhos.

Bem, hoje é mais ou menos assim, como visto pela varanda da casa da fazenda:


É. Lindo.

Pegamos um barco e fomos dar uma volta no lago. É gigante. E lindo. Paramos o barco e nos jogamos n'água límpida e refrescante, naquele calor do sertão do Goiás.

Ah, a doce ingenuidade de viver impulsivamente. Like there's no tomorrow. Não consegui subir no barco de volta. Era alto pra caralho. Preciso praticar aquelas flexões, malhar o tchauzinho do braço. Na hora, todo mundo entrou em pânico. Menos eu, que já estava simultaneamente com uma contusão no ombro, torcicolo instantâneo e uma lente de contato pulando do olho. No fim, namorado e amigo me guincharam pra dentro pelos braços. Sobrou um extenso roxo na pele pra contar a história. Talvez eu possa atenuar o mico contando pra todo mundo que tive que lutar contra um jacaré-açu que insistia em me puxar pelo pé.

Jogamos pôquer, fizemos churrasco, enchemos a cara de cerveja. Deitamos na rede e conversamos longamente sobre experiências e trivialidades. Rimos e blefamos. E debatemos acaloradamente sobre funcionalismo público. Talvez um pouco acaloradamente demais. De qualquer forma, a picanha tava ótima. A conversa também. Ninguém sabia que horas eram.

Yummy =p

A Wikipedia diz que a água do lago é alcalina, e por isso não tem mosquito.

Sair de lá foi foda. Seria tão bom se a vida fosse só beber, jogar, andar de barco e mergulhar no lago. E ver a lua nascer. Amanhã volto à realidade.

Estou imensamente agradecida ao Michel e à Vê por tudo. Foi lindo.

30 agosto 2009

Espinha intranasal, pereba e reumatismo craniano

Trilha: O Pulso, dos Titãs.

Em Brasília, o mobiliário urbano (thanks for the vocab, caros alunos publicitários) tem exibido a seguinte campanha: cartazes com nada, nada além de grandes letras formando palavras hipocondríacas. Pra todo lado sou obrigada a ler enxaqueca / cancro mole / constipação / câncer / unha encravada / solidão etc. Já tá ficando desagradável depois de mais de mês da mesma coisa. No começo me perguntava o que eles estão tentando nos vender; será campanha antitabagista do governo? Será uma rede de farmácias? Até hoje não nos deram a resposta. Continua o mistério da publicidade das enfermidades.

Aposto que tudo faz parte de um plano maligno para fazer o povo somatizar as coisa ruim através da leitura involuntária constante e diária. De repente, a indústria farmaceutica conseguiu comprovar a eficácia da repetição de mantra. O povo adoece, eles vendem mais.

Ou então os Estados Unidos, que na verdade pertence aos Rothchild, estão fazendo uma pesquisa socio-biológica usando os brasileiros como cobaia. Pode ser uma arma passiva de destruição em massa com o objetivo de limpeza étnica, para que eles possam finalmente tomar posse da Amazônia.

Talvez sejam alienígenas da galáxia Crom X, usando de táticas hipno-behavioristas para lavar nossos cérebros e nos transformar em zumbis, para depois nos abduzir mais facilmente e conduzir autópsias em nome da ciência.

Falando sério, tô achando essa campanha uma merda. Prefiro propaganda de sabão em pó com irritantes criancinhas e valores da tradição da família. Por favor parem de me induzir vômito enquanto dirijo pela cidade. Saco.

Depois edito isso aqui, ficou péssimo. É impossível me concentrar com o povo assistindo Pânico aqui no meu ouvido. Que eu acho uma merda também.

Boa semana a todos.

30 junho 2009

Bahia Shorts

Ô Bahia

Trilha: Na Baixa do Sapateiro

Não é à toa que fizeram tanta música sobre a Bahia. Bahia é bom demais. Voltei há 2 dias, mas parece uma eternidade. Porque aquilo é outro universo. Eu não estava neste mundo.

Abaixo, coisinhas memoráveis:

Enchentes e Hantavirose
Não havia. Nadica de nada. Obrigada.

Crab Killer
Lá fui eu, toda corajosa, comer um bicho no tal do Caranguejo do Sergipe. Na Bahia. Peço o caranguejo, uma cerveja e meia muqueca de camarão para esta lone ranger. Tenho memórias ótimas de caranguejo ali no Nosso Mar da Asa Norte, de quando era criança; adorava sorver a carninha branca e suculenta da pata do bicho. É claro que os adultos presentes martelavam-no por mim, e na minha cabeça, esse procedimento simplesmente não existia. Eis que o garçom me traz um crustáceo de olhos esbugalhados INTEIRO, e um pedaço de pau pra quebrar-lhe a carapaça. Pânico. Peço ao garçom que faça o serviço sujo por mim, mas o fidalgo recusa, alegando muito trabalho.

Respiro fundo e viro o bicho para que ele fique de costas para seu algoz - no caso, eu. Pinço uma patinha com meus dedos e junto coragem. Fecho bem os olhos e créc - arranco-lhe o pereópode. Os cabelinhos da minha nuca se arrepiam. Indago se caranguejo morre escaldado como lagosta. Ainda assim, pego o pedaço de pau e começo a esfaquear a parte amputada jazindo ali na tábua. O garçom corre a meu resgate e me mostra como faz; Ah, moço, então é na paulada. Obrigada, viu? Me jogo na carninha que o garçom produz. Ufa. Não pode ser assim tão difícil. Olha como o moço fez. Então eu mexo em alguma coisa dentro da pata, algo que puxa outro algo e faz a pata articular-se sozinha. Pronto.

Chamo o garçom, peço desculpas pela minha incompetência e peço que leve o cadáver embora. Tomo minha cerveja e logo chega minha muqueca. Deliciosa e stress-free.

Preguiça
Olha, é verdade que a Bahia dá preguiça. Tive preguiça de socializar. Sozinha ali no albergue com um monte de gringo em volta, aquele mesmo de-onde-cê-é-o-que-você-faz-cê-tá-gostando-da-bahia-já-foi-à-praia-tal me deu uma vontade de ficar só. E só fiquei. Na praia, eu, meu acarajé, minha cerveja, minha maresia, minha areia, meu tempo. Tudo meu.

Mainha
Meus olhos fechados, deitada ao sol, nirvana, barulhinho do mar. Eis que a mulher chega chegando na praia e diz,
"Ô GOSHTOSO! SURURU TÁ ARMADO, VIU MAINHA!"
Ok, normal. Mas eu ri muito. Ri tanto que tive que anotar pra não esquecer. Aliás, depois de um só dia na Bahia você se pega falando cantado. Ó paí, ó.

Trilha Sonora
Resolvi deixar o mp3 quietinho. Quis ouvir tudo que Salvador oferecesse aos ouvidos, por experiência mais holística. Isso fez com que minha cabeça se encarregasse da trilha. Engraçado como a trilha da cabeça é situacional. Todas as músicas que rolaram eram sobre a Bahia. Inclusive aquela acima - vale a pena ouvir essa versão da Elis, clique lá.

Xoxota
No sábado fui ao Pelourinho tirar umas fotos no fim da tarde. Encontrei, ali no Terreiro de Jesus, um mega palco e mega estruturas de show e talz. Festa junina com Alceu Valença mais tarde. Subi morro, desci morro, cliquei aos montes. Voltei pro Terreiro e vi as barraquinhas juninas. Um detalhe me chamou a atenção - além de cerveja, capeta, guaraná e caipirinha, estavam vendendo xoxota também. Se trata de uma mistureba louca de vodca com cachaça com what have you. Meda.

Vi uma super-mega quadrilha produçao Broadway, tomei sorvete ali no elevador e fui embora. Alceu que me perdoe, mas além de não curtir, estava exausta.

Independência da Bahia
O garçom, o cara do albergue, o Xauã (sim, fiquei amiga de um índio tupinambá/rípi), o mestre de roda, a bibinha do acarajé da Barra e sua assistente, a turminha adolescente da praia, o gerente do restaurante - todos ficaram super sentidos porque eu ia embora no domingo... e ia perder o grande show de Claudinha Leitttte no dia 2. Ô dó.

Turistona
Não adianta tentar disfarçar. Todo mundo saca que tu é turista, seja pelo sotaque, pela falta de artimanhas (oi, caranguejo?) ou pelas pernas branquelas. E logo vem o povo te vendendo coisa a preço especial - especial maior, claro. O engraçado é que pra quem mora em Brasília, o preço especial ainda é menor do que o preço normal das coisas aqui. Um acarajé a R$3.50 pra mim tá lindo, em comparação com o de R$5 daqui da Torre. E a Skol 473ml a três contos? Opa, manda aí.

Douglas arrasando na capoeira
Upa Neguinho
Fiz uns amigos: o Junior, o Jefferson e o Douglas. Os moleques jogando capoeira na praia. Tirei umas fotos e logo eles vieram fazer um show de acrobacias só pra mim. Xuxuzinhos. Burst feature on na câmera. Depois o Jefferson veio me mostrar um siri que ele havia capturado. O siri veio pra cima de mim e tentou entrar na minha bolsa.

Aventuras Paladares
Comprei um acarajé da mãe do Junior, e foi o melhor dos 324 anteriores. Também experimentei o abará, que é acarajé cozido na folha de bananeira. Me lembrou pamonha. Ford do céu, porque é que tudo que é frito é melhor?

No aeroporto comi um sanduíche no Subway que tinha gosto de absolutamente nada. O paladar fica alterado depois de tanta pimenta e dendê. Alguém me acompanha aí num acarajé de R$5 sabadão na Torre?


Sim, foi uma viagem maravilhosa. Curta, porém fun fun fun. Relaxei bastante, experimentei bastante, vi muita coisa e ainda fiquei da cô do pé-cado. Dá vontade de voltar o mais rápido possível. E mais uma vez pude comprovar que vale a pena viajar sozinha. A-d-o-r-o.

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Update - Julho
Fui no tal do Acarajé da Rosa ali da 211 norte. Uma bela porcaria. Pra que chamar o lugar de ACARAJÉ da Rosa se o acarajé mesmo nao presta? A cerveja tava boa (mas nao foi a Rosa que fez, nhé?). Muda o nome pra Boteco da Rosa. Ainda custou 7 pilas. Pra se ter uma idéia, o vatapá era meio amarronzado, e veio com aquela pele da superfície quando o treco fica quieto muito tempo, sabe? Isso é só o começo. Nao vou nem entrar no detalhe dos solitários 5 camaroes ou do bolinho murcho... aham.

Eu penso assim: se o lugar tá oferecendo uma coisa pra voce comprar, e ainda tá cobrando caro, o que custa fazer uma coisa bem feita? Qual a diferenca entre fazer bem e fazer mal? Tem que fazer mesmo assim! Entao faz direito. Faz merecer meus sete contos, porra.

Domingo passado fui no acarajé da Mainha lá da torre. Que diferença! Esse sim é do bom. Valeu a pena pagar R$6 pelo coiso. Bem feito, bem temperado, bem servido, fresquinho. Yum.

13 junho 2009

Dia dos Namorados


Bunchie

Encontro-me sozinha neste dia dos namorados e I don't give a shit. Spent some with, spent some without; também já tive brigas hercúleas com o significant other da época na data. É o grande problema da expectativa. Quando você é ainda meio adolescente e conta os dias, o dia chega e é meio decepcionante. Fica a experiência. Tipo aniversário. Mas no fim das contas é só mais um dia e ele passa. Prefiro Ano Novo.

Mas pra entrar no clima de romance (de ontem), hoje irei falar sobre três aquisições recentes clássicas de quem se ama para quem se ama: Sapato, Vibrador e Edredom. Aliás, a pessoa que inventou a palavra "edredom" deveria ser posta para ajoelhar em tampinha de garrafa.


1. O Sapato

É o par mais lindo de todos os tempos. Ok, já faz tipo um mês que comprei, mas é incrível como o efeito de adoração semi-religiosa ainda não passou. Foda.
Tenho dó de usar. Deixei para dias especiais, tipo quando acordo de bom humor. O pé precisa ser devidamente preparado antes de calçá-lo, com bandaids em pontos estratégicos, como a segunda micro-falange do dedo ao lado do mindinho do pé direito, que é levemente maior que o esquerdo. Nada que dê pra notar.


2. O Vibrador

É divertido. Porém, é meio barulhento na calada da noite aqui na roça. Na casa de La Madre. Vai que La Madre passa na porta de meu quarto, ouve o vrrrrrrr e pensa que estou sendo atacada por um enxame de abelhas africanas, abre a porta e dá de cara com... well. Pule para o próximo merry maker:


3. O Edredom

É fofo, gigante, quentinho, macio, gordo e azul. Ele me traz conforto. Ele me aquece o corpo e o coração. Me envolve em suas dobras. I'm walkin' on sunshine.


Conclusão

O Sapato é lindo, mas fere e nem sempre está disponível; O Vibe é ótimo mas é perigoso. No fim do dia, prefiro dormir com O Edredom. Ele me ama de volta.

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Para ler ouvindo Golden Slumbers dos Bítous. Ou I Touch Myself, do Divinyls.

31 maio 2009

21 maio 2009

Trente

É trinta, tá?

Um dia regado a flores, fofocas, congratulações, chocolate, amigos, abraços enormes, presentes, cerveja, vinho e boa mesa. Oh yeah!

Sempre odiei aniversários, mas hoje foi lindo. Obrigada por quebrarem o estigma. Obrigada.

10 março 2009

Battle Royale Sexta-Feira 13

Gabriel Góes

Sexta-feira 13/03
21:30h Balaio Café 201 Norte

Djs Montana
Smash Bros
Telmo e Anselmo

Entrada
R$10,00
Lista amiga R$5,00 (até 23:00h)
btroyale@gmail.com

Sorteio de 1 Camiseta e 1 SAMBA
Apoio: Kingdom Comics e DaCruz Tattoo

09 março 2009

I wanna be gay again


Tenho estado muito amarga. Juro que irei me esforçar para parar com isso.

Defini que este será o mês da gentileza. Eu sei ser gentil, e já fui. Voltarei. Juro.

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Fiz CARNE aqui em casa, para o horror de La Madre. Tem panelas e colheres de pau específicas que eu posso usar con carne. E pra falar a verdade, quem fritou mesmo os bifes foi o bonitão. Ele mesmo, o Eduardo. O bonitão.

Delícia.

... de bifes

... e de bofe.

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Ah, a nostalgia. Quem disse que não há um pouquinho de touro aqui nesta geminiana fake? Tenho saudades de um bocado de coisas. Andei pensando em minhas amigas lá no norte do mundo. O frio, os English muffins com garden veg cream cheese, o copão de chafé e o velho laboratório. O Celestial Seasonings de limão, e a Cheechee tocando suas músicas insanas no violão.

E tenho saudades de Pauleca. Apareça, Pauleca!!!

Hoje dei os sapatos com os quais me casei para a Valzitcha. São brilhosos. Vieram de uma vida passada. Não sou mais a mesma pessoa. Sou muito melhor. Todos somos. Espero que eles a tragam sorte.

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Será que sobrou algum papel de origami?

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Parece que o Watchmen não presta em forma de filme. Filme de gibi dá um pouco de preguiça, por mais que eu ame a HQ. É normalmente tão frustante.

Olhaí o amargo de novo. Saidimim!!!

Irei sonhar esta noite e amanhã escrevo aqui o sonho, okay?

02 março 2009

Gergelim

Essa fota não é minha. Achei no ffffound.

Fui picada por uma vespa. Na mão. Ela entrou no meu cabelo, eu entrei em pânico, meti a mão e tomei.

Inchou. Depois inchou mais. Quando acordei, minha mão era uma luva de boxe. Fui trabalhar. Meus alunos arregalavam os olhos olhando pra coisa. Fui pro hospital. Tomei a maior injeção do mundo, e ganhei receitas para muitas, muitas drogas.

Fui pra casa, mostrei pra mãe. Vasculhei o chão pela arma do crime - o ferrão amarelo que, aos gritos, removi da carne macia. Não queria que fosse pisado por mais um inocente habitante desta casa. Achei e fui toda orgulhosa mostrar pra mãe e pro Eduardo.

Sob minuciosa análise, constatamos que o achado era um gergelim.

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Na última vez que tomei esteróides assim, desejei feliz ano novo a toda minha turma de gravura em pleno março.

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Só pra lembrar: El Grán Battle Royale
acontece hoje, segunda, no Balaio, a partir das 9:30 de la noche. Be there or be fucking square.

Gabriel Góes

A Battle Royale estréia com os deliciosos e incontroláveis DJs Smash Bros e Telmo e Anselmo nas pickups, o host mais sexy do planeta, a decoração da casa (amamos a casa) SAMBA-style, muitas bebidinhas gostosas, gente legal getting down, e ainda o sorteio de uma tattoo no Da Cruz. Eu não tomarei nada, infeliz e obviamente; já estarei chapada de antihistamínicos e corticóide. Mas que vai ser legal, ah, vai.


... Feliz ano novo!!!!!!

24 fevereiro 2009

Random Shorts

Art by Mimi

Casa da Nina, vinho. Depois, sinuca. Noite supimpa. Comentário do Dudu: "Gente, adorei nossa noitinha! Aquela coisa super hétero."


O telefone tocou, e era a cobrar. Atendi porque poderia ser meu irmão.
"Oi, o Desumano tá aí?"
"Quem?!"
"O Desumano."
"Acho que você ligou errado."
"Ah, tá. Desculpa."
Acho que o nome do cara deve ser Dilermando. Sei lá.


Eu nunca, NUNCA teria no meu banheiro um produto com o nome Vagisil. Nunca.
Quem, em sua sã consciência, colocaria um nome desse em seu produto? Imagine minhas visitas verem e pensarem, "hmm, ela usa creme na periquita".
E o iogurte POTTY? E o iogurte BATMILK? Que nomes apetitosos. E a desinsetizadora HOT LIMP, na Asa Norte? Noção, alguém?

20 fevereiro 2009

Battle Royale

Gente, o Sergio Naya mór-reu. Good riddance. Mas vamos ao que interessa:

A grande estréia da Battle Royale, balada que promete agitar as noites de segunda na capital federal. Estarei lá com cerveja. Ou melhor, uísque, porque tô dando um tempo de cerveja. Dá muita pança.


Battle Royale é uma noite de Rock para dançar e se divertir!

Rock+Indie+Hits com os incontroláveis DJs Smash Bros e Telmo & Anselmo

02/03 a partir das 21:30 no Balaio Café - 202 norte

Sorteio de tattoo do estúdio DaCruz Tattoo

Venha curtir sua ressaca de carnaval e balançar o esqueleto!

Contato: (61) 85864225 btroyale@gmail.com

Apoio: Kingdom Comics e DaCruz tattoo

http://revistasamba.blogspot.com


Gostaram do cartaz? Foi meu irmão que fez. Bunitinho.

14 fevereiro 2009

Loira do Banheiro


A Ila perguntou, então vou responder.

Estava eu feliz da vida no café Balaio, que adoro, quando resolvi ir ao toalete. Entro no referido, unitário, no térreo do recinto, e ao tatear a parede verifico que a luz não funciona. Também verifico que há uma loira trajando vestimentas rípi logo atrás de mim, invadindo meu espaço pessoal (algo praticamente inexistente nesta parte dos trópicos, convenhamos). O garçom passa logo atrás. Pergunto ao prestativo fidalgo se estamos sem luz, ele diz que sim e que há outro toalete no andar superior.

A loira prontamente dá meia volta e corre escada acima.

Subo a escada muito puta. Absurdo. Ridícula. Tem matéria fecal no lugar de miolos? Quem pensa que é?
Lavo as mãos de rua enquanto espero, contemplando o duro semblante no reflexo do espelho.

A rípi loira sai do banheiro, olha pra minha cara de GOVERNANTA MALIGNA, dá um sorrisinho amarelo, e fita sua sandalinha. Não se move. Fica lá, na frente da porta. Eu solto um gélido Com Licença, e ela concede. Não sou barraqueira.

O que me deixa pasma é o nível de pessoalidade do acontecido. As pessoas fazem esse tipo de coisa todo santo dia no transito (já reclamei, né?), mas aí não são pessoas, são pangarés dentro de armaduras. Tipo o Jaspion dentro do Daileon (exceto a parte de ser pangaré). Agora a garota me vem com isso no corpo-a-corpo.

Que ela mije tanto que sua bexiga sugue seus globos oculares para dentro de seu corpo.

E que a gasolina de todos acabe na entrada da tesourinha em horário de pico. Comigo bem longe, óbvio.

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Tô mal-humorada, né? Cruzes.

12 fevereiro 2009

Fools


Música é uma coisa muito importante pra mim. Quando eu era mais nova, não me importava com a letra. Se a música me desse aquela sensação, tava valendo. Acho que foi assim que ouvi muito grunge, com aquelas letras, "quero morrer, a vida é péssima"; não concordo com isso, acho a vida supimpa. Mas amava a música.

Tem coisa que não suporto. Não suporto música ruim e medíocre. Me vem um spam de FORRÓ LUNÁTICO or whatever no orkut, junta isso com a TPM e com o presente estado de espírito e de vida sentimental e de vida familiar e tensões do dia-a-dia (que meu irmão acha que gosto), e aí fodeu. Misture aí um pouquinho da mega raiva que tenho dos MOTORISTAS DE BRASÍLIA e pronto. Um coquetel molotov prontinho pra danar.

ARGH

Motorista que não dá seta. Motorista que viu que você claramente deu passagem e não agradece. Motorista que cola na tua direita no balão. Quero matar. Lentamente. Muito.

Vou juntar todos eles num chuveirão estilo Auschwitz e vou colocar FORREGGAE BEM ALTO PARA O RESTO DA HUMANIDADE. Vou dar a eles somente CACHORRO QUENTE COM MOLHO BARBECUE pra comer, com maionese CREMMY, e KRONENBIER. Vou fazê-los fumar CIGARRO DE BALI aos montes e pregar as pálpebras como em Laranja Mecânica assistindo ao SUPERPOP DA LUCIANA GIMENEZ. Tudo isso sem desligar o forreggae.

Se bem que eles iam gostar. Malditos. Odeio vocês. Vocês e a garota do banheiro do café Balaio.

15 janeiro 2009

Estranhos Rituais

É esquisito como o povo gosta de estátuas de cera, tipo aquelas da famosa Mme Tussaud. Tirar foto com elas. Abraçá-las. Fazer chifrinho. Imitar a pose. Depois mostra as fotos das férias e diz, olha, eu encontrei com a Hannah Montana (é... ela tá lá na casa de Tussaud, ao lado de Shakespeare, Beethoven e Ella Fitzgerald).

Fizeram uma coletiva de imprensa para revelar a muito esperada estátua do Obama:


Cara, chamaram uma horda de fotógrafos de várias mídias mundiais pra tirar fotos de uma estátua de cera, pra depois divulgá-las mundo afora. Os iconoclastas se reviram em seus túmulos.

Ok, normal. Essa estátua simboliza a importância do líder frente a nosso momento histórico, oras, e além do mais é uma peça de arte (?) muito bem feita e tal. Acho uma pena terem reproduzido um momento em que o presidente tenha se encontrado de braços cruzados - linguagem corporal demonstrativa de retiro do papo da roda, ou de reprovação. Mas pare pra pensar um pouquinho sobre os estranhos rituais que nós humanos praticamos.

A gente adora estátuas de cera (favor considerar metáfora abrangente aqui). A gente usa salto alto (pense nisso - é muito bizarro). A gente tem uma série de códigos sociais, como fazer fila, apertar as mãos ou demonstrar respeito, mesmo quando não o tem lá no fundo. A gente se veste de branco no ano novo. A gente se fura, a gente pinta a cara. A gente beija na boca, mas só no momento certo (ou não). É proibido beber a sopa que restou no finzinho da tigela, tem que ser na colher. Café é na xícara e suco é no copo. A gente dá e recebe presentes em ocasiões específicas. A gente tem orkut. A gente tem padrões de beleza e outras exigências a satisfazer perante a sociedade.

Olha, é difícil, viu?

Depois a gente olha pra gente diferente da gente e exclama, "Caraca! Que beição bizarro! Que make h-o-r-r-o-r-o-s-a!"





Ou então, "Não acredito que faziam isso com as pobres mulheres chinesas!"


... e depois vai fazer festinha pra uma estátua de cera.




Na faculdade li um texto excelente sobre os Nacirema, um povo esquisitíssimo. Abaixo, o texto traduzido na íntegra, retirado daqui. Quem não tiver saco de ler, pule para o spoiler no final.

Ritos Corporais entre os Nacirema

O
antropólogo está tão familiarizado com a diversidade das formas de comportamento que diferentes povos apresentam em situações semelhantes, que é incapaz de surpreender-se mesmo em face dos costumes mais exóticos. De fato, se nem todas as as combinações logicamente possíveis de comportamento foram ainda descobertas, o antropólogo bem pode conjeturar que elas devam existir em alguma tribo ainda não descrita.

Deste ponto de vista, as crenças e práticas mágicas dos Nacirema apresentam aspectos tão inusitados que parece apropriado descrevê-los como exemplo dos extremos a que pode chegar o comportamento humano. Foi o Professor Linton, em 1936, o primeiro a chamar a atenção dos antropólogos para os rituais dos Nacirema, mas a cultura desse povo permanece insuficientemente compreendida ainda hoje.

Trata-se de um grupo norte-americano que vive no território entre os Cree do Canadá, os Yaqui e os Tarahumare do México, e os Carib e Arawak das Antilhas. Pouco se sabe sobre sua origem, embora a tradição relate que vieram do leste. Conforme a mitologia dos Nacirema, um herói cultural, Notgnihsaw, deu origem à sua nação; ele é, por outro lado, conhecido por duas façanhas de força: ter atirado um colar de conchas, usado pelos Nacirema como dinheiro, através do rio Po- To- Mac e ter derrubado uma cerejeira na qual residiria o Espírito da Verdade.

A cultura Nacirema caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que evolui em um rico habitat. Apesar do povo dedicar muito do seu tempo às atividades econômicas, uma grande parte dos frutos deste trabalho e uma considerável porção do dia são dispensados em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde surgem como o interesse dominante no ethos deste povo. Embora tal tipo de interesse não seja, por certo, raro, seus aspectos cerimoniais e a filosofia a eles associadas são singulares.

A crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência natural é para a debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é desviar estas características através do uso das poderosas influências do ritual e do cerimonial. Cada moradia tem um ou mais santuários devotados a este propósito. Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários em suas casas e, de fato, a alusão à opulência de uma casa, muito freqüentemente, é feita em termos do número de tais centros rituais que possua. Muitas casas são construções de madeira, toscamente pintadas, mas as câmeras de culto das mais ricas têm paredes de pedra. As famílias mais pobres imitam as ricas, aplicando placas de cerâmica às paredes de seu santuário.

Embora cada família tenha pelo menos um de tais santuários, os rituais a eles associados não são cerimônias familiares, mas sim cerimônias privadas e secretas. Os ritos, normalmente, são discutidos apenas com as crianças e, neste caso, somente durante o período em que estão sendo iniciadas em seus mistérios. Eu pude, contudo, estabelecer contato suficiente com os nativos para examinar estes santuários e obter descrições dos rituais.

O ponto focal do santuário é uma caixa ou cofre embutido na parede. Neste cofre são guardados os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem os quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Tais preparados são conseguidos através de uma serie de profissionais especializados, os mais poderosos dos quais são os médicos-feiticeiros, cujo auxilio deve ser recompensado com dádivas substanciais. Contudo, os médicos-feiticeiros não fornecem a seus clientes as poções de cura; somente decidem quais devem ser seus ingredientes e então os escrevem em sua linguagem antiga e secreta. Esta escrita é entendida apenas pelos médicos-feiticeiros e pelos ervatários, os quais, em troca de outra dadiva, providenciam o encantamento necessário. Os Nacirema não se desfazem do encantamento após seu uso, mas os colocam na caixa-de-encantamento do santuário doméstico. Como tais substâncias mágicas são especificas para certas doenças e as doenças do povo, reais ou imaginárias, são muitas, a caixa-de-encantamentos está geralmente a ponto de transbordar. Os pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem quais são suas finalidades e temem usá-los de novo. Embora os nativos sejam muito vagos quanto a este aspecto, só podemos concluir que aquilo que os leva a conservar todas as velhas substâncias é a idéia de que sua presença na caixa-de-encantamentos, em frente à qual são efetuados os ritos corporais, irá, de alguma forma, proteger o adorador.

Abaixo da caixa-de-encantamentos existe uma pequena pia batismal. Todos os dias cada membro da família, um após o outro, entra no santuário, inclina sua fronte ante a caixa-de-encantamentos, mistura diferentes tipos de águas sagradas na pia batismal e procede a um breve rito de ablução. As águas sagradas vêm do Templo da Água da comunidade, onde os sacerdotes executam elaboradas cerimônias para tornar o líquido ritualmente puro.

Na hierarquia dos mágicos profissionais, logo abaixo dos médicos-feiticeiros no que diz respeito ao prestígio, estão os especialistas cuja designação pode ser traduzida por "sagrados-homens-da-boca". Os Nacirema têm um horror quase que patológico, e ao mesmo tempo fascinação, pela cavidade bucal, cujo estado acreditam ter uma influência sobre todas as relações sociais. Acreditam que, se não fosse pelos rituais bucais seus dentes cairiam, seus amigos os abandonariam e seus namorados os rejeitariam. Acreditam também na existência de uma forte relação entre as características orais e as morais: Existe, por exemplo, uma ablução ritual da boca para as crianças que se supõe aprimorar sua fibra moral.

O ritual do corpo executado diariamente por cada Nacirema inclui um rito bucal. Apesar de serem tão escrupulosos no cuidado bucal, este rito envolve uma prática que choca o estrangeiro não iniciado, que só pode considerá-lo revoltante. Foi-me relatado que o ritual consiste na inserção de um pequeno feixe de cerdas de porco na boca juntamente com certos pós mágicos, e em movimentá-lo então numa série de gestos altamente formalizados. Além do ritual bucal privado, as pessoas procuram o mencionado sacerdote-da-boca uma ou duas vezes ao ano. Estes profissionais têm uma impressionante coleção de instrumentos, consistindo de brocas, furadores, sondas e aguilhões. O uso destes objetos no exorcismo dos demônios bucais envolve, para o cliente, uma tortura ritual quase inacreditável. O sacerdote-da-boca abre a boca do cliente e, usando os instrumentos acima citados, alarga todas as cavidades que a degeneração possa ter produzido nos dentes. Nestas cavidades são colocadas substâncias mágicas. Caso não existam cavidades naturais nos dentes, grandes seções de um ou mais dentes são extirpadas para que a substância natural possa ser aplicada. Do ponto de vista do cliente, o propósito destas aplicações é tolher a degeneração e atrair amigos. O caráter extremamente sagrado e tradicional do rito evidencia-se pelo fato de os nativos voltarem ao sacerdote-da-boca ano após ano, não obstante o fato de seus dentes continuarem a degenerar.

Esperemos que quando for realizado um estudo completo dos Nacirema haja um inquérito cuidadoso sobre a estrutura da personalidade destas pessoas, Basta observar o fulgor nos olhos de um sacerdote-da- boca, quando ele enfia um furador num nervo exposto, para se suspeitar que este rito envolve certa dose de sadismo. Se isto puder ser provado, teremos um modelo muito interessante, pois a maioria da população demonstra tendências masoquistas bem definidas.

Foi a estas tendências que o Prof. Linton (1936) se referiu na discussão de uma parte específica dos ritos corporais que é desempenhada apenas por homens. Esta parte do rito envolve raspar e lacerar a superfície da face com um instrumento afiado. Ritos especificamente femininos têm lugar apenas quatro vezes durante cada mês lunar, mas o que lhes falta em freqüência é compensado em barbaridade. Como parte desta cerimônia, as mulheres usam colocar suas cabeças em pequenos fornos por cerca de uma hora. O aspecto teoricamente interessante é que um povo que parece ser preponderantemente masoquista tenha desenvolvido especialistas sádicos.

Os médicos-feiticeiros têm um templo imponente, o latipsoh, em cada comunidade de certo porte. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para tratar de pacientes muito doentes, só podem ser executadas neste templo. Estas cerimônias envolvem não apenas o taumaturgo, mas um grupo permanente de vestais que, com roupas e toucados específicos, movimentam-se serenamente pelas câmaras do templo.

As cerimonias latipsoh são tão cruéis que é de surpreender que uma boa proporção de nativos realmente doentes que entram no templo se recuperem. Sabe-se que as crianças pequenas, cuja doutrinação ainda é incompleta, resistem às tentativas de levá-las ao templo, porque "é lá que se vai para morrer". Apesar disto, adultos doentes não apenas querem mas anseiam por sofrer os prolongados rituais de purificação, quando possuem recursos para tanto. Não importa quão doente esteja o suplicante ou quão grave seja a emergência, os guardiões de muitos templos não admitirão um cliente se ele não puder dar uma dádiva valiosa para a administração. Mesmo depois de ter-se conseguido a admissão, e sobrevivido às cerimônias, os guardiães não permitirão ao neófito abandonar o local se ele não fizer outra doação.

O suplicante que entra no templo é primeiramente despido de todas as suas roupas. Na vida cotidiana o Nacirema evita a exposição de seu corpo e de suas funções naturais. As atividades excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são realizados apenas no segredo do santuário doméstico. Da perda súbita do segredo do corpo quando da entrada no latipsoh, podem resultar traumas psicológicos. Um homem, cuja própria esposa nunca o viu em um ato excretor, acha-se subitamente nu e auxiliado por uma vestal, enquanto executa suas funções naturais num recipiente sagrado. Este tipo de tratamento cerimonial é necessário porque as excreções são usadas por um adivinho para averiguar o curso e a natureza da enfermidade do cliente. Clientes do sexo feminino, por sua vez, têm seus corpos nus submetidos ao escrutínio, manipulação e aguilhadas dos médicos-feiticeiros.

Poucos suplicantes no templo estão suficientemente bons para fazer qualquer coisa além de jazer em duros leitos. As cerimônias diárias, como os ritos do sacerdote-da-boca, envolvem desconforto e tortura. Com precisão ritual as vestais despertam seus miseráveis fardos a cada madrugada e os rolam em seus leitos de dor enquanto executam abluções, com os movimentos formais nos quais estas virgens são altamente treinadas. Em outras horas, elas inserem bastões mágicos na boca do suplicante ou o forçam a engolir substâncias que se supõe serem curativas.
De tempos em tempos o médico-feiticeiro vem ver seus clientes e espeta agulhas magicamente tratadas em sua carne. O fato de que estas cerimônias do templo possam não curar, e possam mesmo matar o neófito, não diminui de modo algum a fé das pessoas no médico feiticeiro.

Resta ainda um outro tipo de profissional, conhecido como um "ouvinte". Este "doutor-bruxo" tem o poder de exorcizar os demônios que se alojam nas cabeças das pessoas enfeitiçadas. Os Nacirema acreditam que os pais enfeitiçam seus próprios filhos; particularmente, teme-se que as mães lancem uma maldição sobre as crianças enquanto lhes ensinam os ritos corporais secretos. A contra-magia do doutor bruxo é inusitada por sua carência de ritual. O paciente simplesmente conta ao "ouvinte" todos os seus problemas e temores, principalmente pelas dificuldades iniciais que consegue rememorar. A memória demonstrada pelos Nacirema nestas sessões de exorcismo é verdadeiramente notável. Não é incomum um paciente deplorar a rejeição que sentiu, quando bebê, ao ser desmamado, e uns poucos indivíduos reportam a origem de seus problemas aos feitos traumáticos de seu próprio nascimento.

Como conclusão, deve-se fazer referência a certas práticas que têm suas bases na estética nativa, mas que decorrem da aversão profunda ao corpo natural e suas funções. Existem jejuns rituais para tornar magras pessoas gordas, e banquetes cerimoniais para tornar gordas pessoas magras. Outros ritos são usados para tornar maiores os seios das mulheres que os têm pequenos e torná-los menores quando são grandes. A insatisfação geral com o tamanho do seio é simbolizada no fato de a forma ideal estar virtualmente além da escala de variação humana. Umas poucas mulheres, dotadas de um desenvolvimento hipermamário quase inumano, são tão idolatradas que podem levar uma boa vida simplesmente indo de cidade em cidade e permitindo aos embasbacados nativos, em troca de uma taxa, contemplarem-nos.

Já fizemos referência ao fato de que as funções excretoras são ritualizadas, rotinizadas e relegadas ao segredo. As funções naturais de reprodução são, da mesma forma, distorcidas. O intercurso sexual é tabu enquanto assunto, e é programado enquanto ato. São feitos esforços para evitar a gravidez, pelo uso de substâncias mágicas ou pela limitação do intercurso sexual a certas fases da lua. A concepção é na realidade, pouco freqüente. Quando grávidas as mulheres vestem-se de modo a esconder o estado. O parto tem lugar em segredo, sem amigos ou parentes para ajudar, e a maioria das mulheres não amamenta seus rebentos.

Nossa análise da vida ritual dos Nacirema certamente demonstrou ser este povo dominado pela crença na magia. É difícil compreender como tal povo conseguiu sobreviver por tão longo tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo. Mas até costumes tão exóticos quanto estes aqui descritos ganham seu real significado quando são encarados sob o ângulo relevado por Malinowski, quando escreveu:

"Olhando de longe e de cima de nossos altos postos de segurança na civilização desenvolvida, é fácil perceber toda a crueza e irrelevância da magia. Mas sem seu poder de orientação, o homem primitivo não poderia ter dominado, como o fêz, suas dificuldades práticas, nem poderia ter avançado aos estágios mais altos da civilização"


**SPOILER**Acontece, meu benzinho, que o estranho povo Nacirema somos nós. Nacirema é American ao contrário.

12 janeiro 2009

Susana Vieire-se

Texto de autoria da minha querida e genial amiga Josi Paz. Gostei muito e pedi permissão, granted, pra colocar aqui.

Isso é só o comecinho, clique no link abaixo pra ler o resto, e aproveite pra ver o blog todo que é ótimo.

"Suzana Vieire-se".
10/01/2009.

Eu amo, tu amas, ele ama. Nós pagamos mico. Sim, pois amor sem pelo menos um mico, de circo que seja, não é bem amor. Alguns pagam mico no condomínio, na família, entre os amigos. Tem gente que paga mico ao vivo ou na capa da revista Caras.
Seja como for: é tudo amor (rimou).

Amor-de-verdade, amor-de-mentira, amor-de-verão: tudo farinha do mesmo saco do amor. Um saco que não tem fundo quando se tem 20 anos, dizem, e que vai ficando menor com o tempo. Até os 50 anos, o tal saco do amor, que antes guardava até amor platônico, falam que vai virar uma bolsinha de nada, onde mal caberá o amor-próprio.

Não é o caso da Suzana Vieira. (...)

MAIS NO BLOG Mulher que Maravilha

10 janeiro 2009

SAMBA na Funfarra

Participação do pessoal da SAMBA ontem no Funfarra. As fotas são do celular, por isso a resolução ÓTEMA com hot pixels e tudo. Preciso consertar minha lente urgentemente.

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Esse negócio de baixa resolução e hot pixels me lembrou da minha primeira câmera digital, lá em 2001. Era uma HP M312, com menos de 2 megapixels de resolução. Fiquei alucinada com o brinquedinho, que quebrou 300 galhos e fez boas viagens.

Uma amiga teve a primeira dela bem antes, circa 1998. Era uma Mavica que funcionava com disquete. Cabia 9 poses em cada. Nada mais funciona com disquete hoje em dia. Na época era tecnologia de ponta, imagine, uma câmera que funcionava sem filme! E quem tinha um Pentium 100 arrasava. Conexão dial-up. Enquanto você esperava uma página abrir, podia ir à cozinha fazer um café e comer uns biscoitos.

A primeira câmera digital surgiu nos anos 70, mas a primeira imagem digital, nos anos 50. É uma foto escaneada de um bebê:

E aqui uma fota de hoje do meu bebê, em estado onírico:

Ok, pequena Mini já não é mais tão pequena assim, mas o nome ainda é Mini. É uma delícia de falar, tente: Miiiniiiiiii. Agora tente com uma voz enjoada. Viu? É por isso que eu nunca consegui chamar ela de outra coisa.

09 janeiro 2009

Laying low

for a while. Enquanto isso, aproveitem esta foto dos meus antepassados:
- Querido, esqueci a panela no fogo!
- Puta merda, de novo?!
- E você que sempre esquece a tampa da patente levantada?
- Peraí. Isso foi só uma vez, quando...
- Fica quieto agora que o fotógrafo trocou a lâmina.
- ...
- Xarope.

04 janeiro 2009

Sweatshop alert

Uma coisa tem me incomodado bastante em lojas de departamento como a C&A - que por sinal anda péssima - e a Renner: eles estão vendendo produtos com uma etiqueta gigante escrito "PRODUTO IMPORTADO". Aí o consumidor pensa, ooh lala, produto importado, mas se você olhar a etiqueta, ela diz Made in Bangladesh/Honduras/outro país pobre infestado de sweatshops. Quer dizer então que agora as lojas no Brasil também estão outsourcing (eufemismo para trabalho semi-escravo), e ainda tiram a maior onda com isso. "PRODUTO IMPORTADO" é uma ova. Quero saber quantas criancinhas manetas eles estão explorando pra vender uma camisa.

02 janeiro 2009

2009

O ano novo é só uma ilusão advinda do calendário gregoriano, que é a maior mutreta. Não tem sincronia com a natureza ou com o universo. Mesmo assim, a histeria em massa causa sensação de frescor, non? Começar de novo, clicar o refresh na barra de ferramentas. Formatar o HD. Parar de fumar, malhar, fazer um milhão, se formar, se mudar, mudar, trocar de carro, trocar de emprego, viajar, zerar as dívidas, comer melhor, dormir melhor, parar de encher a cara e pagar mico por aí. As resoluções são sempre cliché. Faz bem. Não existe nada mais poderoso no mundo do que auto-sugestão. Auto-sugestão move montanhas.

Eu não fiz nenhuma resolução. Só planos. Vamos ver se mudar de metodologia habilita a execução.

Feliz ano novo!

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