19 julho 2008

Sobre as coisas sem função






Na época em que tirei essas fotos no Water Street Market Antique Barn, em New Paltz, estava obcecada com essas coisas velhas e meio sombrias, esses bibelôs cafonas de tempos passados. Isso aí faz parte de um projeto de um livro cujo tema era "Wonder". Wonder é muito subjetivo; pode ser tanto "maravilha" quanto pensar sobre coisas. I wondered a quem esses objetos pertenciam. Imagino o dia em que a pessoa passou por uma loja de bibelôs e escolheu um destes a dedo; "Esse aqui vai ficar lindo na penteadeira ao lado do meu pó de arroz".

Os americanos têm mania de coisas que não têm funcão. Tipo flamingos de jardim, ou papai noéis infláveis. Existem lojas imensas de departamentos de coisas inúteis, tipo "The Christmas Tree Shops". Dá pra encontrar tudo, desde bandeirinhas de quatro de julho até ímãs de geladeira especiais de páscoa. E eles compram mesmo. É uma christmas sweater pra cada ano. Não sei o que fazem com as coisas depois que acaba o feriado.

Me lembrei agora de uma vez em que estava na biblioteca pegando um livro no balcão logo antes do natal, e uma senhora orgulhosamente mostrava a todos um álbum de fotos de sua coleção de casinhas de natal. Ela tinha uma vila inteira. Era casinha de natal espalhada por toda sua residência. E dizia como recentemente havia comprado uma lindona, com frisos tais e tais. Casinhas de natal. Não sei como chamá-las. São miniaturas de casinhas decoradas externamente com ornamentos de natal - luzinhas, neve, etc. Pensei como era bizarra sua obsessão. E onde ela as guardava depois que acabava o natal? Na garagem, junto ao papai noel inflável e (juro que isso existe) ao caixão de halloween de jardim?

Isso é muito assustador. É verdade que os americanos se tornaram uma nação de consumistas desenfreados. Quando não tem mais o que comprar, se inventa o que comprar. É meio complicado, porque esses objetos, de certa forma, fazem parte de sua cultura. Assim como se tem o carnaval e carros alegóricos aqui e o día de los muertos com caveirinhas no México, se tem páscoa com coelhos de jardim de plástico tamanho família lá. Faz parte da estética do "folclore" local. Mas isso tá ajudando a foder com o mundo, desde a mão-de-obra escrava empregada, a exploração dos recursos, a poluição resultante na produção dessas coisas... inúteis. Vendidas às toneladas a cada ano num país de 280 milhões. Sem contar com o lixo que essas merdas produzem. Pra onde vai?

E agora a tendência de coisas inúteis é mundial. Como embalagens masturbatórias. Você, junto com outros milhares de brasileiros por hora, vai no Giraffa's e pede um hamburguer e uma coca. Você ganha de brinde um papel de bandeja, uma caixa de sanduíche, um copo de papel parafinado com tampa de plástico, um canudo envolto em papel e (meu preferido) guardanapos embalados um a um em plástico. Ah, sim, e mini-sachês de plástico com alumínio de ketchup. Quem recicla essas merdas? Ninguém. Aí vem um e diz, mas ei! É higiênico. Higiênico minha pica. A boca humana é imunda. Uma aluna minha disse que só perde em número de bactérias pra boca do dragão de Komodo, cuja mordida pode matar uma criança, mas não achei fontes.

Ah, seres humanos imbecis.

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