22 agosto 2008

"Do women have to be naked to get into the Met. Museum?"

Guerrilla Girls, 1989

Pense em todos os artistas que você conhece ou já ouviu falar. Peraí, calma! Alexandre Frota não é artista. Nem Carla Perez. Tô falando de artista de arte, como em pintura, desenho, escultura, gravura...

Pensa aí.

Pensou? Agora responda: quantos nomes de mulher vieram à sua mente?

Pois é, sacanagem. O mundo das artes é dominado pelos homens. E quando a gente pensa em artista mulher, sempre pensamos nas modernas ou contemporâneas: a Yoko, as Lígias do Brasil, a doida da Tracy Emin, a Tarsila, a Frida Foda, Georgia O'Keeffe. Ninguém se lembra das velhas de guerra. Quando a gente pensa na arte da idade média e na da renascença, todo mundo lembra do Michelangelo, do Donatelo, do Rafael, do Leonardo... todos os tartarugas ninjas. Sáporquê? Porque a gente nem nunca ouve falar nas mulheres. Ninguém nos ensina, ninguém nos mostra. Abra um livro de história da arte. Quantas mulheres? Heinnn?? Humpf. Só no canvas.

Vão pesquisar. Eu tô. Preciso aprender mais! A Mary Cassatt é a pintora mais antiga que conheço, e era impressionista - não faz tanto tempo assim. E pior que tinha um monte de mulher que em vez de estar lá depenando galinha no estrume do feudo, tava pintando. Ou fazendo escultura. Ou gravura. E não tem nenhum nome que venha à cabeça. Em 4 anos de artes plásticas e belas artes, não aprendi nenhum.

Era justamente essa a causa das notórias Guerrilla Girls. Elas vestiam máscaras de gorila e faziam pôsteres incríveis nos anos 80 como intervenção/protesto contra a ausência de figuras femininas no mundo acadêmico das artes e na galeria. Depois de um tempo, suas manifestações foram adotadas pelas grandes galerias como arte, e aí rolou um paradoxo: como elas poderiam continuar suas intervenções contra uma coisa que elas mesmas derrubaram? Acabou. A instituição matou a arte no ato do resgate. Houve um grande conflito interno entre as GGs. Algumas pensaram, ótimo, conseguimos. Outras pensaram, não vou me vender a esses demagogos. Umas novas ressucitaram o grupo, mas as originais debandaram.

Pelo menos o mundo da fotografia foi mais justo. Desde os primórdios de sua existência - que convenhamos, não faz tanto tempo assim, a fotografia foi inventada em 1827 - sempre houve reconhecimento do trabalho das fodonas. Inclusive os cianótipos da Anna Atkins foram fundamentais no desenvolvimento da invenção.

Julia Margaret Cameron, Gertrude Kasebier, e Myra Albert Wiggins são todas pré-século 20. A velhinha da foto ao lado (por Judy Dater, 1974) é a Imogen Cunningham, fodona do pictorialismo (final do século 19 até 1914). Essa é uma das minhas imagens preferidas de todos os tempos. Outras mulheres que arrasaram (ou ainda arrasam) na fotografia são: Berenice Abbott, com suas fotos arquitetônicas de NY; Margaret Bourke-White, capa da Life no. 1, levou uma vida digna de heroína de HQ; Dorothea Lange, tirou a icônica foto da migrante com seus filhos e fez um trabalho incrível com a FSA; Helen Levitt, fez trabalhos beirando o surrealismo com crianças assustadoras; Cindy Sherman, Lauren Greenfield, Annie Leibovitz, Diane Arbus, Tina Modotti, e outras, e ainda outras menos famosas. Muitas outras. Tem muita fotógrafa foda por aí.

As mulheres artistas merecem reconhecimento. Seria bacana resgatar o trabalho e valor das artistas que viveram em uma época infeliz pra elas. Hoje ainda não tá ideal - no mundo do cinema, por exemplo, ainda tem homem demais pra mulher de menos na cadeira do diretor - mas tá quase. Quase.

Um comentário:

Dandalunda disse...

vivendo e aprendendo, com Quérol de góóóóóexxxx! =)adoro me empanturrar do seu conhecimento, honey! thelonious, graças a vc, está mais vivo do que nunca nessa casa! =)

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